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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cumplicidade

Acredito que cumplicidade implica partilhar algo e não obriga a um conhecimento profundo dos “cúmplices”. Aliás, se não conhecermos bem, ainda funciona melhor esse sentimento de cumplicidade.

Há alguns, talvez muitos, anos viajava bastante de comboio entre o Porto, Lisboa e, claro o Algarve. Para o Algarve, com frequência nos distraímos nas horas e lá se ía o comboio das 7h20. Sobrava o que na altura chamávamos de comboio correio, apesar de já não transportar correio nenhum. Partia do Barreiro pelas dez da noite e chegava ao Algarve de manhã. Frequentes vezes acordava em Vila Real de Santo António e voltava para trás, para a minha estação habitual. Pena que a linha não continuasse até Sevilha e aí já não voltaria para trás, de certeza.

Pois nesse dia lá nos distraímos com a brincadeira na capital e tive que ir no comboio da noite. Quando cheguei à carruagem abundavam os militares sentados e deitados pelos bancos.
Num banco uma mulher interessante e ao seu lado um saco a marcar o lugar. Dizia, certamente, “militares não por favor”, porque lhe quando lhe perguntei se estava ocupado disse-me que não, com um sorriso tímido. Percebi que também de alívio, talvez porque percebeu que seria melhor companhia de viagem que os outros ocupantes da carruagem.

Trocámos as palavras de circunstância habituais nestas ocasiões e o cansaço da viagem venceu-nos. Um entendimento mútuo, sem palavras, e senti a sua cabeça no meu ombro e o seu corpo bem ao lado do meu. Não me mexi com medo de a acordar e acabei por adormecer também. Acordámos ao mesmo tempo e a proximidade ou o calor levou-nos a ter o mesmo sonho e a mesma vontade. Foi irresistível.

Passados alguns dias, de férias, cruzei-me com ela e com o que talvez fosse o namorado ou marido. Nada deixou transparecer a nossa viagem ao mundo do prazer inesperado.

Cumplicidade é isto mesmo.

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